sábado, 2 de junho de 2007

Tempo

Santo Expedito mostrando quem manda!

Os americanos usam um termo bonito para um fenômeno que é meu velho conhecido: a procrastinação. É meio pernóstico, mas gosto mais dele que dos sinônimos mais vulgares como "protelação" ou "adiamento".

Mark Twain escreveu uma história fantástica sobre esse hábito lamentável. Imagine que você tem uma doença gravíssima com uma única possibilidade de cura. Engolir um sapo. Não um sapinho de conto de fadas, uma sapo nojento, gosmento, barulhento. Qual a melhor coisa a fazer? Ir tomar umas cervejas com os amigos e protelar o seu encontro com o sapo, ou engolir o bicho de uma vez? Quem deixa para depois, vive o sofrimento continuamente. Fica imaginando, remoendo, pensando no problema. Quem encerra o assunto de uma vez, sofre, mas logo passa. Quando eu estava escrevendo minha tese de mestrado, ganhei da minha mulher um sapo de pelúcia, grande, ocupava um espaço danado na minha escrivaninha, que era para eu não me esquecer da história do Mark Twain...

Outro que falou em procrastinação foi Santo Agostinho. Viveu e registrou em suas Confissões o dilema entre resistir às tentações hoje e garantir a vida eterna ou ceder já e passar a eternidade pagando. Gosto muito da seguinte frase dele a respeito:
Deus prometeu perdão para o seu arrependimento, mas Ele não prometeu o amanhã para a sua procrastinação.
Nós procrastinadores temos até um padroeiro: Santo Expedito. Nas imagens dele, vemos que ele esmaga com o pé direito um corvo e junto a ele está escrito cras. Sempre imaginei que fosse só uma onomatopéia, mas é bem mais que isso. Cras é amanhã em latim e o corvo seria o espirito do mal dizendo para Expedito deixar a conversão dele para amanhã. Sei não, acho que o pobre corvo morreu de graça, ele estava só gorjeando cras, cras, cras e o santo já achou que era coisa do demo!!! :) O importante é que ele se impôs à tentação do corvo, e se converteu imediatamente, hodie (hoje), como está escrito na cruz que ele carrega.

Valei-me meu Santo Expedito!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Números

Alguns alunos da USP invadiram a reitoria para protestar contra decretos do Serra que, segundo eles, ferem a autonomia das universidades públicas paulistas.

Isso gerou um debate muito interessante. O Reinaldo Azevedo mostrou que as três universidades paulistas tem juntas um orçamento comparável com o de Harvard. Mostrou também que a USP gasta com subsídios diversos 20% do dinheiro que deveria ser destinado a ensino, pesquisa e extensão. Um professor argumentou para o Paulo Henrique Amorim que o problema é que 90% do orçamento das universidades vai para folha de pagamento, aí incluídos os professores e funcionários aposentados, e que por isso as universidades precisam de mais dinheiro.

Sei que esses números não batem. Mas vamos considerar que os 20% acima sejam sobre o dinheiro que sobra depois de pagar a folha. Significa que as universidades tem um orçamento incrível (comparável com o de Harvard) mas só sobra 8% dele para comprar livros, equipamentos, construir e reformar os prédios.

Nada contra dar comida e moradia aos estudantes, desde que não falte dinheiro para o principal, certo? E precisa subsidiar a comida de todo mundo, indistintamente? E vem cá, precisa mesmo de mais dinheiro? Sei que os professores não ganham bem, então como é possível que 90% do dinheiro seja gasto com pessoal? Ou tem professor demais, ou tem funcionário demais, ou as duas coisas juntas...

Reclamam que o Serra quer monitorar as contas das universidades em tempo real. Eu acho bem razoável, tem alguma coisa muito errada com esses números, não tem?