sexta-feira, 20 de julho de 2007

Traduttore, traditore

No post abaixo falei de traduções mal feitas. Em literatura tem outra, um livro até bem vendido chamado "O Físico". Tradução de "The Physician", que deveria ser "O Médico". Ninguém percebeu que isso tá errado, meu Deus do Céu?!!

Mas o que me irrita mesmo são os filmes. Os produtores acham que quem vai aos cinemas não lê a resenha do filme, portanto tem que saber um pouco da história já no título. Se o filme chama "Jerry Maguire", no Brasil tem que chamar "Jerry Maguire, a grande virada!". Quer dizer, tem que me entregar de bandeja que vai haver uma reviravolta feliz no filme. Outro exemplo é o filme "Um Salto para a Felicidade", veja na Sessão da Tarde. O título original é "Overboard". eta é a descrição do filme que encontrei no Google:

Milionária esnobe sofre acidente e perde a memória, mas, num golpe do destino, é
socorrida por um marceneiro em quem, pouco antes, havia aplicado um calote. Ele
então decide vingar-se, levando-a para tomar conta de sua casa e dos quatro
filhos.


A milionária em questão (Goldie Hawn) cai de um barco, por isso o "board" do título. Bem, o fato é que se trata a princípio de uma vingança. Eu não preciso saber que vai ter final feliz. Aliás, quem precisa saber que algum filme americano vai ter final feliz?

O filme do Hitchcock foi chamado aqui no Brasil de "Festim Diabólico". Em inglês é só "Rope", corda, que é como o crime do filme foi cometido. O título em português já prefere falar sobre a festa que os assassinos promovem, muito mais informação do que o autor quis passar com seu título.

Não faltam exemplos. Mandem novos para eu colocar na lista...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Fazendo a pergunta certa

Meus três leitores sabem que eu costumo ler as orelhas dos livros para parecer mais culto do que sou, para impressionar e para me divertir com o efeito que isso tem sobre as pessoas. Ainda assim, o leitor de orelhas não pode ter preconceitos com as orelhas que lê.

Outro dia estava com o um livro na mão, tinha por volta de 100 páginas, capítulos curtos e capa com um subtítulo começando com gerúndio. Está claro que era um espécime muito bem definido de auto-ajuda. Para piorar tudo, um editor que escolhe o seguinte título: "Você é mais capaz do que pensa".

Dito dessa forma, não parece que o livro pudesse acrescentar qualquer coisa de útil. Ou inútil, mas minimamente interessante.

Um dos piores problemas é o título, parece que os editores de livros resolveram aprender com o distribuidores de filmes aqui no Brasil. Em inglês é "QBQ - Question Behind the Question". A idéia central do livro não é provar que somos mais capazes do que pensamos, mas propor um método, muito simples, para aumentar a nossa responsabilidade pessoal.

Ter responsabilidade pessoal é parar de se fazer de vítima, de reclamar e de ficar adiando tudo. São coisas que irritam muito, mas que exercem uma atração muito grande. Como diria o Millôr Fernandes, "errar é humano, culpar o outro pelo erro é mais humano ainda".

A proposta é mudar a forma com perguntamos as coisas. Quantas vezes não ouvimos, ou nos fazemos, as seguintes perguntas:

- Por que isso está acontecendo comigo?
- Quando é que alguém vai me treinar?
- Quem foi o corno que deixou isso aqui?

São perguntas que não resolvem (Por que?), servem para apontar culpados (Quem?) e nos mantém inertes (Quando?). A proposta é trocar essas perguntas por outras mais eficientes. As regras para isso são:

- A pergunta deve começar com "Como" ou "Que". Não deve começar com "Por que" ou "Quem" ou "Quando"
- Ser em primeira pessoa (do SINGULAR!)
- Usar um verbo de ação, no presente.

Esse livro me marcou profundamente. Sou procrastinador (isso vocês já sabem), reclamão e também gosto de me fazer de vítima. Agora tenho um jeito bem fácil de saber que estou caindo nas velhas tentações. Termino com a versão da prece da serenidade proposta pelo livro:

"Ó Senhor, que eu tenha serenidade para aceitar as pessoas que não posso mudar
coragem para mudar aquela que eu posso mudar
e sabedoria para saber que...essa pessoa sou eu!"