terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Nome

Espero que meus seis leitores me perdoem a longa ausência. Passei por intensas mudanças nesse período e isso me afastou um pouco aqui do blog. Quando faltarem textos aqui, ou estou deprimido ou muito ocupado (ou os dois, o que é comum e terrível).

Não comecei esse post para falar de mim, mas do meu pequeno de um ano e meio. Ele está começando a falar e está divertidíssimo. O repertório de palavras é curto, ele entende muito mais do que consegue falar: "mamã", "papai" (fala com perfeição!), "cocó" (DVD's ou alguma história do Cocoricó, - se não sabe o que é isso, quando for pai ou mãe, vai saber), "cocô", "xi","vovó", "não", "bô" (acabou), "pá" (estourou, caiu no chão fazendo barulho)...

Semana passada ele aprendeu uma palavra e não pára de falar: "Inácio". Também é uma das poucas que ele fala direitinho, deve ser por ouvir mais vezes ("não" é outro exemplo). Acho que ele gostou do nome que escolhemos, pois está repetindo com muito prazer. Em toda brincadeira ele encontra alguma desculpa para dizer que o brinquedo é dele, ou está na vez dele brincar, e tome "Inácio" para todo lado. Fico todo babão, melhor terminar por aqui ou vai queimar o teclado!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Avesso do avesso

Vocês se lembram do meu comentário a respeito das minhas turmas na faculdade. A turma de terça-feira era agressiva, difícil, reclamava o tempo todo com o coordenador e mesmo comigo. Já na sexta existia interesse e camaradagem, já haviam me elogiado para o coordenador, marquei uma aula de reposição num sábado e muita gente foi.

Apliquei prova nas duas turmas. A de sexta foi muito, mas muito mal. Um monte de gente entregou as provas em branco, gente que eu esperava que fosse bem teve um desempenho lamentável e deu para sentir que eles estão loucos para colocar a culpa em mim, afinal, errar é humano e culpar o outro pelo erro é mais humano ainda! Confesso que nesse caso, nem sei se tiro a razão deles. A prova foi feita para ser de nível médio, mas eu devo ter errado em alguma suposição inicial. Estou só começando nessa carreira, meu feeling não é suficientemente preciso. Ainda não corrigi as provas, comento baseado no que vi ao passar os olhos pelas folhas enquanto eles entregavam, mas a coisa foi dramática. Será que meu relacionamento com eles vai mudar? Será que vou ter que fazer alguma coisa, como aplicar nova prova, desconsiderar questões, passar um trabalho? Aguardem cenas dos próximos capítulos.

Já a turma de terça estudou muito para a minha prova. Sei disso pois eles fizeram de tudo para que ela fosse a última da semana de provas e por que alguns alunos ligaram no meu celular para tirar dúvidas um dia antes. Adorei isso. Gostei mais ainda quando os vi atacando as três questões da prova, nada ali era completamente desconhecido para eles, como aconteceu com os alunos de sexta. Eles fizeram muitas perguntas ao longo da prova e eu acabei ajudando bastante, pois via que as perguntas eram na direção certa, mostravam algum conhecimento prévio. Ora, estou lá para que eles aprendam, acho muito careta desperdiçar qualquer chance de ensinar, mesmo que seja durante uma prova. Qual é a prioridade afinal? Garantir lisura no processo da prova ou aprendizagem efetiva? Os dois são objetivos de um professor, mas o último tem maior peso. Já na turma de sexta, nem deu para ajudar, eles não sabiam o que perguntar, não tinham nenhuma idéia do que estava ali na frente deles.

Estou muito feliz com a minha turma de terça. Quero dizer isso para eles já na próxima aula, independente das notas. Eles podem até ter ido mal, derrapado aqui e ali nas questões da prova, mas mostraram maturidade ao estudar muito. Para ter uma idéia do que é a tal maturidade de que estou falando, até ameaça de boicote a minha prova sofreu, segundo o coordenador. Acho que pela ajuda que eles tiveram na prova, pelo sentimento de que eram capazes de resolver as questões e pelo discurso que prentendo fazer na próxima aula, vou acabar o semestre como um professor talvez querido, pelo menos respeitado.

E o pessoal de sexta? Para começar, nem sei que discurso adotar. Não sei se chego na sala pagando geral, dizendo a eles que não adianta só ter boas aulas (como as minhas, hehe) e não estudar nada. Que a continuar assim estão todos fritos e que eu estou muito decepcionado, afinal eles eram a minha melhor turma! Outra alternativa é bancar o good cop e dizer que eu sinto muito pelo resultado, que eu não esperava que a minha prova fosse tão difícil nem que eles estivessem tão despreparados, mas que juntos nós vamos dar a volta por cima, afinal eles são uma turma muito querida e tal. Tudo isso vou discutir com o meu coordenador depois de ter corrigido todas as provas, o que espero fazer esta noite.

Incrível como uma prova pode mudar completamente o cenário da relação professor-aluno. Deve ser a relação mais delicada entre todas as relações humanas. Pelo menos das que vivi até hoje: namorado-namorada, filho-mãe, filho-pai, marido-mulher, amigo-amigo(a), empregado-chefe, mestrando-orientador...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Soja

Quando ainda repetia slogans de esquerda em qualquer discussão, gostava de falar do absurdo que era o latifúndio, produzindo soja para alimentar o gado americano no inverno. Dizia que o negócio é a agricultura familiar, que produz os alimentos de verdade, já que eu não como soja!

Se não fosse a soja e a indústria de alimentos (multinacional), meu filho não teria leite, iogurte, vitaminas. Tudo com leite de soja e à venda nas melhores lojas do ramo.

E gado não alimenta gente? Americano não é gente? Será que a carne que eu como veio de um lote de reforma agrária ou de uma grande fazenda? Aposto todas as fichas na última.

Mamíferos

Parece que somos a única espécie de mamífero que segue bebendo leite, dos outros, para o resto da vida. Já ouvi o relato, de segunda mão, de pediatras que dizem às mães que "leite de vaca é para bezerro". Pouca coisa pode ser tão estúpida!

Meu filho desenvolveu intolerância à lactose. Estamos contornando com o leite de soja, mas não é o bastante. Tente tirar completamente o leite da sua dieta e você vai ter alguma idéia do que estamos passando! Quase toda receita um pouco mais elaborada tem leite. Neston batido com suco de frutas tem leite (olha o rótulo, tá escrito lá: contém traços de leite). Uma papinha de estrogonofe de frango tem leite. Bolacha, chocolate, bolo: leite, leite, leite.

Se um dia o pediatra do seu filho vier com essa conversa mole, saiba que é só para você achar que está tudo bem com seu filho, errados são os outros que insistem com esse hábito anti-natural. Ele tenta fazer você aceitar o trabalhão que vai ter e ainda se sentir orgulhoso pelas escolhas certas. Pode ser com a melhor das intenções, mas é bem desonesto. Será que o dr. não toma leite nenhum? Ou ainda é um bezerro?

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Tio Rei

Aliás, o blog do Reinaldo Azevedo desta semana está fantástico. Aqui ele faz uma piada rápida e mortal. Já neste outro me fez sentir inveja de um tempo em que se estudava Os Lusíadas com atenção e rigor. Parece que meus ideais estão cada vez mais conflitantes com meu tempo. Você também tem a sensação de estar na década errada?

Serendipity

Faz tempo que estou tentando me lembrar de uma canção para ninar meu filho. No quarto dele tem uma imagem bonita de São Francisco rodeado de pássaros e com sua túnica marrom. A música é do disco "Arca de Noé" e também embalou os meus sonos. Mas só me lembrava da primeira estrofe.

Estou há semanas pensando em entrar no Google para procurar a letra, mas na correria dos dias acabo me esquecendo. Hoje topei com ela em um post do Reinaldo Azevedo.

Quase chorei! É o que os americanos (será que também os ingleses?) chamam de serendipity. É difícil traduzir...Tenho que investir o mais rápido possível em bons dicionários: inglês, português e inglês-português. Vai uma boa grana aí! Em tradução bem livre, totalmente no espírito deste leitor de orelhas, o termo indica uma coincidência, não uma mera coincidência, mas aquelas em que o fato ocorrido ao acaso e o momento em que ocorre são uma combinação perfeita, para o bem. Ao menos é assim que eu sempre entendi, parece que lá na Wikipedia não é bem assim. Fico com a minha versão, bem mais poética. Agora me ocorre o quanto é estranho adjetivar qualquer coincidência como "mera"... Como o evento é extraordinário, parece um paradoxo, né?

Segue a poesia, lindíssima, do Vinícius de Moraes. Se bem me lembro, era cantada pelo Ney Matogrosso acompanhado de um grupo de crianças.

São Francisco

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho
Dormindo à noite
Junto ao moinho
Bebendo a água
Do ribeirinho.

Lá vai São Francisco
De pé no chão
Levando nada
No seu surrão
Dizendo ao vento
Bom-dia, amigo
Dizendo ao fogo
Saúde, irmão.

Lá vai São Francisco
Pelo caminho
Levando ao colo
Jesuscristinho
Fazendo festa
No menininho
Contando histórias
Pros passarinhos.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

T.G.I. Friday

É engraçado como a minha experiência de professor tem sido uma montanha russa emocional.

Quando dou aula para a turma de terça, fico desiludido como atestam os dois posts abaixo. Aí chega a sexta-feira e a coisa muda completamente. É uma turma interessada, simpática, já até me elogiaram para o coordenador. Não são alunos mais fortes que os de terça e isso fica claro pelo meu plano de aula, que está atrasado. Parece que a principal diferença em relação a outra turma é de motivação, ânimo.

Logo que o coordenador me passou a turma de terça ele disse para eu tomar muito cuidado com o que eu dissesse, pois tudo SERIA usado contra mim. Não estava dizendo que algo PODERIA ser usado contra mim, mas que eles iriam reclamar de qualquer jeito. Eles já fizeram protesto para tirar professores e são muito brigões. Acho que isso se reflete na aprendizagem, pois eles tem uma ansiedade muito grande. Estou ensinando coisas básicas, um pouco abstratas no início mas que vão fazer sentido prático lá na frente. Eles ficam falando que não entendem nada, que não sabem onde aplicar aqueles conceitos...Ora, em certos momentos é preciso saber esperar um pouco, nem tudo faz sentido imediatamente. Primeiro temos que aprender os conceitos básicos para só então aplicá-los.

Não é o que acontece sexta-feira. Nesta classe os alunos não tem nenhuma reserva, não ficam me avaliando 100% do tempo, nem esperam entender tudo instantaneamente. Eles parecem entender melhor que o processo de aprendizagem depende muito do professor, mas ele só participa do início. Os próximos passos incluem o aluno, que vai fazer exercícios, rever a matéria e tirar dúvidas. Tudo a seu tempo.

Eu não culpo só os alunos da terça-feira. Talvez seus professores tenham sido mesmo ruins e a culpa seja toda da instituição. Mas o fato é que, independente dos motivos, os alunos estão com o foco errado, esperando tudo do professor que está longe de ser perfeito ou mágico. Isso os deixa pessimistas e muito ansiosos.

Parece que todos ali -- eu incluído, por que não -- têm um problema que não é de engenharia ou mesmo de pedagogia. O problema é psicológico.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Exagerado

O meu prezado leitor pode estranhar o post abaixo: "o cara não deu nem um mês de aula, sequer recebeu salário e já está decepcionado com seu desempenho?"
Bem, há uma história contada pela minha mãe sobre a minha infância que talvez ajude você a entender o quanto sou exigente comigo mesmo.
Antes da primeira série eu já estava dando os meus primeiros passos na alfabetização. A professora preparava cadernos de caligrafia para a gente treinar e os meus tinham as folhas todas amareladas. Era por conta das minhas lágrimas por não ter ainda uma letra perfeita como a da professora. Isso com 6 anos de idade!
Acho que deu para sentir o drama, né?

Tem alguma coisa fácil nessa vida?

Minha mulher gosta de citar um frase fantástica:
Sempre que ouço alguém reclamar que a vida é difícil, sinto vontade de
perguntar: comparada a quê?

Faço esse preâmbulo porque vou começar a reclamar da minha vida difícil!

Sempre acalentei o sonho de ser professor. Lá atrás, nos tempos do colégio, quando começou a minha paixão pela matemática, também surgiu a vontade de ser professor. Na época de escolher a profissão tive dúvida entre seguir uma carreira na matemática ou na engenharia, mas o senso prático acabou falando mais alto, as opções como engenheiro são maiores e também estudei muita matemática. Eu me lembro especialmente de como ficava ligado para ouvir alguma dúvida dos colegas ao meu lado, para então explicar-lhes aqueles conceitos todos, mesmo que eles não quisessem!

Quando terminei a faculdade, tive dúvida de novo em seguir imediatamente uma carreira acadêmica ou tentar a sorte em alguma empresa. Novamante, falou mais alto o lado prático, já que viver de bolsa por mais sei lá quanto tempo não me pareceu muito tentador frente ao salário que me ofereciam nas empresas.

Mas sempre ficou aquele sonho, aquela imaginação do que teria sido o caminho que eu não escolhi. Eu que sou sonhador, meio romântico, ficava imaginando o quanto seria bom fazer aquilo que eu realmente gosto. É comum a gente cair na armadilha de pensar que trabalhar no que se gosta é pura diversão. "Imagina que delícia ser um jogador de futebol profissional, ganhar uma grana para jogar bola, coisa que fazemos de graça numa boa...". Algumas semanas de aula já foram o bastante para me mostrar que no sonho era muito mais fácil!

Confio no meu taco, sei que tenho uma boa didática, é uma das minhas únicas características pessoais que admiro. Mas só isso não está adiantando. Passei o último fim de semana trabalhando feito um camelo para preparar o material para os meus alunos, que já tinham reclamado com o coordenador do curso que não estavam entendendo nada, que o nível da aula estava acima da capacidade deles, que continuando naquele ritmo viria o apocalipse...E mesmo com toda essa preparação, a aula terminou como uma batalha perdida, para todo mundo. E o pior é ouvir a reclamação dos dois lados, pois um aluno veio me dizer que eu não tenho que desanimar, que os alunos que reclamaram deveriam estar melhor preparados e se não estão isso não é problema meu, são uns preguiçosos....Quer dizer, mesmo que eu prepare a minha aula para essa turma mais fraca (seria mais preguiçosa?) tenho que me preocupar com os bons alunos também.

Menos ilusão daqui para frente e mais trabalho duro. Estou só começando e ainda tenho muito o que aprender. Vou repetir esse troço como um mantra até acreditar nisso!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Alguém tem alguma dúvida?

Na minha curta experência como professor, já percebi que a frase acima é quase um convite ao silêncio. Ela me lembra um ditado que é muito popular lá na minha casa: "Quem oferece não quer dar". Explico: sabe aquela anfitrião que fica falando sobre o Black Label que ele tem guardado e fica perguntando se as visitas querem? Na maioria das vezes, encabuladas, as visitas acabam declinando. Se quisesse mesmo tomar o uísque (ou bourbon para os puristas, diz minha cultura de orelha que Jack Daniel's não é uísque) teria já trazido aberto, de preferência dentro dos copos.

Não tem coisa pior para o professor que o silêncio da classe. Nesse silêncio cabe todo tipo de elocubrações e fantasias, os alunos podem estar entendendo perfeitamente, não entendendo nada, sequer prestando atenção ou um pouco de cada coisa.

Também notei que uma turma nova, ainda não familiarizada ou segura o suficiente com o professor, tende a interromper somente para corrigir ou perguntar sobre o que estão copiando da lousa. Na matéria que eu ensino, representei a perturbação em um sistema de controle de temperatura como uma perda de calor. Até aí, nada demais. Entretanto, representei essa perda com uma seta que entrava no sistema, subtraindo do calor fornecido pelo forno. Ao copiar o esquema, um aluno não entendeu direito aquilo e mandou a pergunta: "Ué, se o calor sai, a seta não deveria ser para fora?". Foi a minha primeira pergunta de aluno, uma pergunta interessante, pertinente, que depois de um bom tempo de aula quebrou aquele silêncio tão constrangedor.

Fiquei pensando se os professores não poderiam usar isso como método para quebrar o gelo com seus alunos. Na hora de explicar os seus esquemas colocados na lousa, deixar de explicar certos pontos de propósito, ou ainda deixar certos ovos de Páscoa espalhados pela matéria, só para gerar diálogo com os alunos. Talvez aquela frase dita pelos nossos professores, em tom de brincadeira, ao apontarmos erros na exposição não seja de todo mentira. "Queria só ver se vocês estavam prestando atenção".

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Primeira aula

Hoje seria minha primeira aula como professor universitário. Estava disposto a escrever aqui as minha impressões, como em um diário de classe. Foi muito diferente do que eu estava imaginando.

Não houve aula propriamente dita. Ainda é a primeira semana, hoje é sexta-feira, ou seja, não foi ninguém. Passei a semana inteira muito apreensivo com relação a esta primeira aula, bastante preocupado em causar uma boa impressão. Será que passaria segurança suficiente?

Porque a vida é plena, não estou nada decepcionado com o que aconteceu. Na ausência dos alunos, fiquei trocando idéias com outro professor que vai dar aulas da mesma disciplina em outra turma. O cara me passou todas as dicas, o que ele está planejando fazer...Essa conversa foi fundamental! Perdi o ar sisudo de quem tem pela frente a tarefa mais importante do mundo e passei a encarar tudo com leveza e prazer. Quando os alunos aparecerem, vão ter um professor bem mais tranqüilo pela frente.

Antes das aulas assisti a algumas palestras, para os professores novos, claramente motivacionais. O papel delas é fazer a gente se sentir importante e cheio de responsabilidade. Até aí, nada demais. Mas junte a isso a ansiedade de quem não estréia só naquela faculdade, mas no magistério superior como um todo... E tem um superego gigante!

Tenho a impressão de que preciso me esquecer por alguns instantes de que sou um professor sério e rigoroso. Ou o peso nas costas não me deixa andar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Motivações

O que me leva a escrever um blog?

O primeiro motivo, disparado, é a inveja. Inveja dos blogs do HQNV. Esse meu amigo escreve tão bem que se dá ao luxo de variar os estilos. Antes eram crônicas mais longas, agora são pequenos textos. De qualquer maneira, faz parecer que é fácil escrever. Acreditei nisso, embora a realidade seja um pouco diferente, pelo menos para mim.

Vem daí a minha segunda motivação. Se não é tão fácil assim, talvez praticando um pouco...Descobri que sou um leitor compulsivo, principalmente de texto jornalístico, mas também dou minhas cabeçadas nos romances, na auto-ajuda ou nos ensaios. Porém escrevo pouco. E aquela conversa de que lendo bastante se aprende a escrever é só argumento de professor para nos convencer a ler. Pode até ajudar, aumenta o vocabulário, mas escrever se aprende escrevendo, ora essa!

Também escrevo pelos comentários. Aqui vai, de novo, mais inveja. Um dos blogs do HQNV era caudaloso em comentários, que viravam um animado bate-papo entre os próprios comentaristas. Mas eu tenho só três leitores! Fiz propaganda do blog pelo orkut, tive até algumas visitas por conta disso, mas não segurei esses leitores. Talvez eles até tenham voltado à página, mas não encontraram textos novos por muito tempo. Ou estão por aí, calados (acho difícil). O que fazer? Como fazer novos leitores? Como fazer esses leitores comentarem? Como terminar meus textos?

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Traduttore, traditore

No post abaixo falei de traduções mal feitas. Em literatura tem outra, um livro até bem vendido chamado "O Físico". Tradução de "The Physician", que deveria ser "O Médico". Ninguém percebeu que isso tá errado, meu Deus do Céu?!!

Mas o que me irrita mesmo são os filmes. Os produtores acham que quem vai aos cinemas não lê a resenha do filme, portanto tem que saber um pouco da história já no título. Se o filme chama "Jerry Maguire", no Brasil tem que chamar "Jerry Maguire, a grande virada!". Quer dizer, tem que me entregar de bandeja que vai haver uma reviravolta feliz no filme. Outro exemplo é o filme "Um Salto para a Felicidade", veja na Sessão da Tarde. O título original é "Overboard". eta é a descrição do filme que encontrei no Google:

Milionária esnobe sofre acidente e perde a memória, mas, num golpe do destino, é
socorrida por um marceneiro em quem, pouco antes, havia aplicado um calote. Ele
então decide vingar-se, levando-a para tomar conta de sua casa e dos quatro
filhos.


A milionária em questão (Goldie Hawn) cai de um barco, por isso o "board" do título. Bem, o fato é que se trata a princípio de uma vingança. Eu não preciso saber que vai ter final feliz. Aliás, quem precisa saber que algum filme americano vai ter final feliz?

O filme do Hitchcock foi chamado aqui no Brasil de "Festim Diabólico". Em inglês é só "Rope", corda, que é como o crime do filme foi cometido. O título em português já prefere falar sobre a festa que os assassinos promovem, muito mais informação do que o autor quis passar com seu título.

Não faltam exemplos. Mandem novos para eu colocar na lista...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Fazendo a pergunta certa

Meus três leitores sabem que eu costumo ler as orelhas dos livros para parecer mais culto do que sou, para impressionar e para me divertir com o efeito que isso tem sobre as pessoas. Ainda assim, o leitor de orelhas não pode ter preconceitos com as orelhas que lê.

Outro dia estava com o um livro na mão, tinha por volta de 100 páginas, capítulos curtos e capa com um subtítulo começando com gerúndio. Está claro que era um espécime muito bem definido de auto-ajuda. Para piorar tudo, um editor que escolhe o seguinte título: "Você é mais capaz do que pensa".

Dito dessa forma, não parece que o livro pudesse acrescentar qualquer coisa de útil. Ou inútil, mas minimamente interessante.

Um dos piores problemas é o título, parece que os editores de livros resolveram aprender com o distribuidores de filmes aqui no Brasil. Em inglês é "QBQ - Question Behind the Question". A idéia central do livro não é provar que somos mais capazes do que pensamos, mas propor um método, muito simples, para aumentar a nossa responsabilidade pessoal.

Ter responsabilidade pessoal é parar de se fazer de vítima, de reclamar e de ficar adiando tudo. São coisas que irritam muito, mas que exercem uma atração muito grande. Como diria o Millôr Fernandes, "errar é humano, culpar o outro pelo erro é mais humano ainda".

A proposta é mudar a forma com perguntamos as coisas. Quantas vezes não ouvimos, ou nos fazemos, as seguintes perguntas:

- Por que isso está acontecendo comigo?
- Quando é que alguém vai me treinar?
- Quem foi o corno que deixou isso aqui?

São perguntas que não resolvem (Por que?), servem para apontar culpados (Quem?) e nos mantém inertes (Quando?). A proposta é trocar essas perguntas por outras mais eficientes. As regras para isso são:

- A pergunta deve começar com "Como" ou "Que". Não deve começar com "Por que" ou "Quem" ou "Quando"
- Ser em primeira pessoa (do SINGULAR!)
- Usar um verbo de ação, no presente.

Esse livro me marcou profundamente. Sou procrastinador (isso vocês já sabem), reclamão e também gosto de me fazer de vítima. Agora tenho um jeito bem fácil de saber que estou caindo nas velhas tentações. Termino com a versão da prece da serenidade proposta pelo livro:

"Ó Senhor, que eu tenha serenidade para aceitar as pessoas que não posso mudar
coragem para mudar aquela que eu posso mudar
e sabedoria para saber que...essa pessoa sou eu!"

sábado, 2 de junho de 2007

Tempo

Santo Expedito mostrando quem manda!

Os americanos usam um termo bonito para um fenômeno que é meu velho conhecido: a procrastinação. É meio pernóstico, mas gosto mais dele que dos sinônimos mais vulgares como "protelação" ou "adiamento".

Mark Twain escreveu uma história fantástica sobre esse hábito lamentável. Imagine que você tem uma doença gravíssima com uma única possibilidade de cura. Engolir um sapo. Não um sapinho de conto de fadas, uma sapo nojento, gosmento, barulhento. Qual a melhor coisa a fazer? Ir tomar umas cervejas com os amigos e protelar o seu encontro com o sapo, ou engolir o bicho de uma vez? Quem deixa para depois, vive o sofrimento continuamente. Fica imaginando, remoendo, pensando no problema. Quem encerra o assunto de uma vez, sofre, mas logo passa. Quando eu estava escrevendo minha tese de mestrado, ganhei da minha mulher um sapo de pelúcia, grande, ocupava um espaço danado na minha escrivaninha, que era para eu não me esquecer da história do Mark Twain...

Outro que falou em procrastinação foi Santo Agostinho. Viveu e registrou em suas Confissões o dilema entre resistir às tentações hoje e garantir a vida eterna ou ceder já e passar a eternidade pagando. Gosto muito da seguinte frase dele a respeito:
Deus prometeu perdão para o seu arrependimento, mas Ele não prometeu o amanhã para a sua procrastinação.
Nós procrastinadores temos até um padroeiro: Santo Expedito. Nas imagens dele, vemos que ele esmaga com o pé direito um corvo e junto a ele está escrito cras. Sempre imaginei que fosse só uma onomatopéia, mas é bem mais que isso. Cras é amanhã em latim e o corvo seria o espirito do mal dizendo para Expedito deixar a conversão dele para amanhã. Sei não, acho que o pobre corvo morreu de graça, ele estava só gorjeando cras, cras, cras e o santo já achou que era coisa do demo!!! :) O importante é que ele se impôs à tentação do corvo, e se converteu imediatamente, hodie (hoje), como está escrito na cruz que ele carrega.

Valei-me meu Santo Expedito!

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Números

Alguns alunos da USP invadiram a reitoria para protestar contra decretos do Serra que, segundo eles, ferem a autonomia das universidades públicas paulistas.

Isso gerou um debate muito interessante. O Reinaldo Azevedo mostrou que as três universidades paulistas tem juntas um orçamento comparável com o de Harvard. Mostrou também que a USP gasta com subsídios diversos 20% do dinheiro que deveria ser destinado a ensino, pesquisa e extensão. Um professor argumentou para o Paulo Henrique Amorim que o problema é que 90% do orçamento das universidades vai para folha de pagamento, aí incluídos os professores e funcionários aposentados, e que por isso as universidades precisam de mais dinheiro.

Sei que esses números não batem. Mas vamos considerar que os 20% acima sejam sobre o dinheiro que sobra depois de pagar a folha. Significa que as universidades tem um orçamento incrível (comparável com o de Harvard) mas só sobra 8% dele para comprar livros, equipamentos, construir e reformar os prédios.

Nada contra dar comida e moradia aos estudantes, desde que não falte dinheiro para o principal, certo? E precisa subsidiar a comida de todo mundo, indistintamente? E vem cá, precisa mesmo de mais dinheiro? Sei que os professores não ganham bem, então como é possível que 90% do dinheiro seja gasto com pessoal? Ou tem professor demais, ou tem funcionário demais, ou as duas coisas juntas...

Reclamam que o Serra quer monitorar as contas das universidades em tempo real. Eu acho bem razoável, tem alguma coisa muito errada com esses números, não tem?

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Irmão

Depois do post abaixo sobre o HQNV, fiquei dias pensando na última frase do texto, onde está escrito que ele é meu maior amigo, exclamação. Comecei a pensar que talvez não tenha sido justo com alguns outros amigos. Resolvi escrever sobre eles também, assim quem sabe a minha consciência me deixe em paz (tenho um super-ego cruel, fica martelando na minha cabeça quando acha que pisei na bola).

Definir uma ordem de grandeza para a amizade não é tarefa fácil. Nunca consegui usar aquela classificação do Orkut para separar os amigos em categorias. Como em toda avaliação, as extremidades são muito claras, por isso não tenho dúvidas quando falo do HQNV ou sobre aqueles que estão na laterna...Mas e os demais?

Tenho um grande amigo, por conta dele comecei a escrever este texto. É quase um irmão, mas sem as picuinhas e os ciúmes de família. Aliás, a comparação com família é muito adequada. Deixei a minha para trás quando vim estudar por aqui, mas em uma idade difícil, quando ainda precisava dela mas era muito novo para começar a minha própria. E foi o que esse amigo me proporcionou tão gratuitamente.

Passávamos o fim de semana estudando. Bem, ele estudava, eu aproveitava cada segundo daquela convivência familiar que sentia tanta falta. Bem mais que as integrais que a gente aprendeu a calcular (e esqueceu pouco depois da prova) o que ficou foi a acolhida, o gosto do almoço de domingo, as conversas, as risadas.

É aquela pessoa com quem você pode contar. Que quando diz "Liga para mim se precisar de alguma coisa" não está fazendo tipo. E quantas vezes eu já me vali dessa disponibilidade. Uma vez eu liguei de Palmas pedindo para que ele me buscasse no aeroporto algumas horas depois, assim, no mesmo dia. E ele estava lá, agüentou até o atraso na chegada. Já me ajudou em casa com uma torneira que não funcionava, já me tirou de uma festa em que eu estava dando vexame...

Somos padrinhos de casamento um do outro. Assim, aquela ligação familiar permanece nas novas famílias que criamos, pois estamos sempre fazendo algum programa juntos. Espero que a gente conserve essa amizade até os nossos filhos crescerem.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

O Homem Que Nunca Votou

Tenho um amigo que nunca votou na vida. Nunca, nem uma mísera vez! Se este texto estivesse sendo escrito na década de 70, faria todo o sentido. Mas não, estou falando de alguém que já tinha idade para votar em 94.

Sou tão invocado com essa história que acompanho desde os tempos de faculdade. A primeira eleição que o sujeito perdeu foi a de 94, quando ainda era facultativo para ele votar (acho que ele não se irrita com a divulgação da sua idade). Disse que ficou com preguiça de ir até a sessão eleitoral! Fanático por política, votei sim nessa eleição, ainda que não fosse obrigatório. Em 95 nos mudamos para Campinas, vindos de nossas respectivas cidades. Uma das primeiras providências que tomei foi transferir meu título de eleitor. As eleições para prefeito de 96 foram as primeiras realizadas inteiramente na urna eletrônica, houve grande renovação dos convocados para mesário e eu acabei nessa.

Não fiquei nada feliz na época, é fato. Ser obrigado a trabalhar quando todos estão descansando. O Homem Que Nunca Votou deu boas risadas de mim, encontrando no fato a desculpa perfeita:
- Não transferi o meu título para não ter de trabalhar como você!
A verdade é que ser mesário de eleição, especialmente em tempos de urna eletrônica, é divertidíssimo. Conhecemos gente nova, batemos papo, observamos as pessoas, seus nomes engraçados, suas roupas engraçadas...

A próxima eleição seria a de 98. Não votei nessa pois estava morando na Alemanha e perdi o prazo para transferência do meu título. Meu amigo ainda não tinha transferido o título, ou seja, nada de votar. Em 2000, nova eleição para prefeito. Eu votei no Toninho, que foi assassinado na véspera do ataque às torres gêmeas. Meu amigo estava estudando na França, logo...Assim que terminou sua estadia na França, voltou ao Brasil mas nem assim, pois em 2002 já estava fazendo doutorado no Canadá. Assim como nas eleições para prefeito em 2004, plebicito sobre vendas de armas em 2005, eleição para presidente em 2006!!!

O pior não é o absurdo de se abster de 8 eleições em seqüência!!! O pior é discutir política eleitoral, coisa que me confessou outro dia, não faz mais. Levantava polêmicas sobre a venda de armas, lá do conforto canadense, veja você...Era a tradução perfeita do "leitor de orelhas" para a política.

O Homem Que Nunca Votou é meu maior amigo! Maior! Escolhi esse aspecto particular das nossas vidas -- outros podem vir a ser publicados, com ou sem o seu consentimento -- pois mostra o quanto somos diferentes e nem por isso a nossa amizade se enfraquece. A grande inspiração para escrever esse blog é dele, ainda que eu tenha uma parcela ínfima do seu talento de escritor. Amigo, fica a minha homenagem a você!

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Alim Pedro

O Alim Pedro original é o da direita


Estou acostumado a dar uma longa explicação sempre que digo meu nome a alguém. Primeiro é a forma de escrever. Incrível a disposição dos brasileiros de colocar "ll" em tudo quanto é nome. Além de trocarem o "m" final por "n", inexplicavelmente. De tão acostumado, eu até me adianto e digo: "Alim, com "m" de Maria no final". Em vão, é só observar o papel e lá está o "n"...

Começa o seguinte diálogo:

- Você é descendente de árabe/turco/libanês?
- Não, o nome é, muito provavelmente, mas eu não sou. Não que eu tenha alguma coisa contra.
- Engraçado, você tem cara de turco! (No Brasil, todo árabe é turco. O que não faz o menor sentido, pois os turcos são persas e não árabes, hehe)

Posso então imaginar o que as pessoas estão pensando: "ué, se não é turco, porque tem esse nome esquisito?"

O primeiro Alim Pedro foi prefeito do Distrito Federal do Rio de Janeiro. Minha avó paterna ouvia o nome do dito cujo pelo rádio, e sei lá porque, gostava. Deu o nome para um dos filhos, que morreu muito cedo. Quando nasci, meu pai quis homenagear a memória do irmão.

O que o Alim Pedro original tinha de tão especial, eu não sei. Foi presidente do IAPI (Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários). Era engenheiro civil. Teria sido um bom prefeito, um bom orador, por que a minha avó se impressionou tanto com o nome que ouviu pelo rádio? Curiosamente, não encontrei registros de outros sobrenomes do sujeito, o que me impede até de confirmar se ele era mesmo árabe (ou persa).

Quando fui estudar na Alemanha como bolsista, tive uma colega do Rio. A avó dela, ao ver meu nome na lista dos aprovados disse para a neta: "Você vai conhecer gente importante, olha esse aqui, deve ser neto!" Ou seja, minha aprovação já havia sido colocada em suspeita de favorecimento ;)

Sou nome de parque em Porto Alegre. Não tive ainda a chance de conhecê-lo. Quem sabe um dia, se os petistas de lá não tentarem mudar o nome para "Parque Fidel Castro" (o homem já está para morrer), "Parque do Trabalhador", "Parque América Latina"...

quarta-feira, 9 de maio de 2007

De como um marxista me tornou liberal

Leo Huberman, muito obrigado!


Já fui de esquerda. Daqueles de usar estrelinha do PT, fazer mil discursos contra "as elites", julgar outros como crápulas por não partilharem da minha ideologia e todos os cacoetes a que estamos expostos tão infelizmente nos últimos tempos.

Não sei direito quando tudo começou. Tem uma influência paterna, certamente. Meu pai gosta muito de política e é um defensor ferrenho do governo Lula até hoje (acho que não tem mais cura para ele). Mais tarde, nas quinta e sexta séries tive uma professora de história e geografia que era uma verdadeira doutrinadora da esquerda (e existe outro tipo?). Ela falava muito sobre como a história que estudávamos era a versão dos vencedores, de como a distribuição de riqueza no mundo era desigual, tinha simpatia pelo Fidel, ódio dos EUA e das multinacionais. O colégio em que eu estudava era particular e logo os pais da classe média dali começaram a ficar muito incomodados. A professora foi demitida e lembro bem o quanto isso me revoltou! Hoje tenho um filho pequeno e entendo bem a preocupação daqueles pais.

Assim me tornei um eleitor, cheguei a votar na legenda em muitas eleições. Passar cheque em branco para o PT, como é duro admitir que já fiz isso na vida...Fui assinante de Caros Amigos, cheguei a fazer panfletagem contra um projeto de cobrar mensalidades em universidades públicas, sabe lá quantos não convenci na minhas discussões políticas...

Foi quando aconteceu. Tinha na cabeça um livro que era muito comentado quando fiz o ensino médio: "A História da Riqueza do Homem". Sabia muito bem que livro era todo escrito usando a materialismo dialético de Marx e que o autor esperava ganhar consciências para a esquerda. Sem saber o que pedir de amigo secreto, já no fim da faculdade, acabei ganhando o livro.

Trata-se de um livro muito bem escrito, simples e coloquial, empolgante até. Um dos capítulos trata do liberalismo econômico, o movimento de laissez faire, laissez passer, que o livro traduz com bastante eficácia para "Deixe-nos em paz!". Foi nesse momento que alguma coisa mudou no meu mundo das idéias. Achei isso tudo muito radical e bonito: deixe as pessoas livres! Livres para produzir o que bem entenderem, livres do jugo estatal, livres da imposição de taxas. A questão da liberdade falou tão fundo em mim que cheguei a conclusão de que a grande revolução não era a de uma ditadura do proletariado, mas a de construir uma sociedade verdadeiramente livre.

Nem continuei a leitura, tão fascinado que estava com as minhas novas idéias. Mais tarde eu fiquei me perguntando, por que Leo Huberman fez uma descrição tão simpática do liberalismo econômico, a ponto de converter um leitor para a direita? Tenho certeza que não era essa a sua intenção ao escrever o livro. Minha teoria é que a dialética marxista entendia que o liberalismo econômico era um passo fundamental para a construção do socialismo. Ele geraria uma burguesia cada vez mais rica e opressora, fomentando a luta de classes. Já ouvi até dizer que havia um ditado no Brasil entre os militantes de esquerda em 1960: "Não dê esmolas, não atrase a revolução!". Depois descobri alguns teóricos que encontram na ascensão da burguesia durante a Revolução Francesa o nascimento das duas correntes aparentemete antagônicas, o comunismo e o liberalismo. Seriam como duas faces de uma mesma moeda, pois ambos separam a economia da moral e ancoram-se em valores puramente materialistas.

Não é o meu caso! Acredito sinceramente que o Estado é parte do problema e não da solução. Nem por isso sou um materialista, a questão para mim é menos de riqueza e mais de liberdade.

Cultura


O girino é o peixinho do sapo
O silêncio é o começo do papo
O bigode é a antena do gato
O cavalo é pasto do carrapato

O cabrito é o cordeiro da cabra
O pecoço é a barriga da cobra
O leitão é um porquinho mais novo
A galinha é um pouquinho do ovo

O desejo é o começo do corpo
Engordar é a tarefa do porco
A cegonha é a girafa do ganso
O cachorro é um lobo mais manso

O escuro é a metade da zebra
As raízes são as veias da seiva
O camelo é um cavalo sem sede
Tartaruga por dentro é parede

O potrinho é o bezerro da égua
A batalha é o começo da trégua
Papagaio é um dragão miniatura
Bactérias num meio é cultura

(Arnaldo Antunes in "Nome" São Paulo.BMG Ariola Discos,1993)

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Bem Vindos!


Caríssimo leitor,

Muito bem vindo ao "Leitor de Orelhas". Este espaço é o ponto de encontro para pessoas que parecem cultas, mas no fundo sabem muito pouca coisa sobre quase tudo. Este não era o título preferido, mas a moda dos blogs é tão grande por aí que vários blogueiros já haviam passado na minha frente na escolha dos nomes.

Mas o que é, afinal, um "leitor de orelhas"? Não se trata de alguém que consegue fazer previsões a partir das voltas do lóbulo auricular de outra pessoa. Sei que pode parecer estranho, mas até acredito que exista gente fazendo isso por aí...Já vi muitos conhecidos com umas sementes coladas à orelha, a pressionar pontos de acupuntura, jurando sentir os efeitos!

As orelhas a que me refiro no título deste blog não são humanas. Embora tenham sido criadas por homens, elas fazem parte do mundo dos livros. O leitor de orelhas é aquele que não tem tempo, disposição, capacidade, não necessariamente nessa mesma ordem, de ler obras completas, mas que se delicia de simplesmente saber do que elas tratam, conhecer resenhas, ler o que o editor escreveu na contra-capa...

Se você ainda não é um, posso garantir que vale muito a pena! É a forma mais rápida e barata de conseguir impressionar as pessoas em uma mesa de bar. O leitor de orelhas pode citar aforismos de Nietzsche, teorias de Freud, filmes de Almodovar...o céu é o limite! É claro que o leitor de orelhas deve contar com a ignorância geral sobre os assuntos de que discorre, mas isso não é lá uma hipótese muito radical.

Quero usar este blog para expressar minhas idéias sobre quase tudo, com enorme sinceridade de quem já no título do blog assume sua impostura intelectual. Que a gente se divirta aqui como em uma descompromissada discussão regada a cerveja e amendoim!