sexta-feira, 31 de agosto de 2007

T.G.I. Friday

É engraçado como a minha experiência de professor tem sido uma montanha russa emocional.

Quando dou aula para a turma de terça, fico desiludido como atestam os dois posts abaixo. Aí chega a sexta-feira e a coisa muda completamente. É uma turma interessada, simpática, já até me elogiaram para o coordenador. Não são alunos mais fortes que os de terça e isso fica claro pelo meu plano de aula, que está atrasado. Parece que a principal diferença em relação a outra turma é de motivação, ânimo.

Logo que o coordenador me passou a turma de terça ele disse para eu tomar muito cuidado com o que eu dissesse, pois tudo SERIA usado contra mim. Não estava dizendo que algo PODERIA ser usado contra mim, mas que eles iriam reclamar de qualquer jeito. Eles já fizeram protesto para tirar professores e são muito brigões. Acho que isso se reflete na aprendizagem, pois eles tem uma ansiedade muito grande. Estou ensinando coisas básicas, um pouco abstratas no início mas que vão fazer sentido prático lá na frente. Eles ficam falando que não entendem nada, que não sabem onde aplicar aqueles conceitos...Ora, em certos momentos é preciso saber esperar um pouco, nem tudo faz sentido imediatamente. Primeiro temos que aprender os conceitos básicos para só então aplicá-los.

Não é o que acontece sexta-feira. Nesta classe os alunos não tem nenhuma reserva, não ficam me avaliando 100% do tempo, nem esperam entender tudo instantaneamente. Eles parecem entender melhor que o processo de aprendizagem depende muito do professor, mas ele só participa do início. Os próximos passos incluem o aluno, que vai fazer exercícios, rever a matéria e tirar dúvidas. Tudo a seu tempo.

Eu não culpo só os alunos da terça-feira. Talvez seus professores tenham sido mesmo ruins e a culpa seja toda da instituição. Mas o fato é que, independente dos motivos, os alunos estão com o foco errado, esperando tudo do professor que está longe de ser perfeito ou mágico. Isso os deixa pessimistas e muito ansiosos.

Parece que todos ali -- eu incluído, por que não -- têm um problema que não é de engenharia ou mesmo de pedagogia. O problema é psicológico.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Exagerado

O meu prezado leitor pode estranhar o post abaixo: "o cara não deu nem um mês de aula, sequer recebeu salário e já está decepcionado com seu desempenho?"
Bem, há uma história contada pela minha mãe sobre a minha infância que talvez ajude você a entender o quanto sou exigente comigo mesmo.
Antes da primeira série eu já estava dando os meus primeiros passos na alfabetização. A professora preparava cadernos de caligrafia para a gente treinar e os meus tinham as folhas todas amareladas. Era por conta das minhas lágrimas por não ter ainda uma letra perfeita como a da professora. Isso com 6 anos de idade!
Acho que deu para sentir o drama, né?

Tem alguma coisa fácil nessa vida?

Minha mulher gosta de citar um frase fantástica:
Sempre que ouço alguém reclamar que a vida é difícil, sinto vontade de
perguntar: comparada a quê?

Faço esse preâmbulo porque vou começar a reclamar da minha vida difícil!

Sempre acalentei o sonho de ser professor. Lá atrás, nos tempos do colégio, quando começou a minha paixão pela matemática, também surgiu a vontade de ser professor. Na época de escolher a profissão tive dúvida entre seguir uma carreira na matemática ou na engenharia, mas o senso prático acabou falando mais alto, as opções como engenheiro são maiores e também estudei muita matemática. Eu me lembro especialmente de como ficava ligado para ouvir alguma dúvida dos colegas ao meu lado, para então explicar-lhes aqueles conceitos todos, mesmo que eles não quisessem!

Quando terminei a faculdade, tive dúvida de novo em seguir imediatamente uma carreira acadêmica ou tentar a sorte em alguma empresa. Novamante, falou mais alto o lado prático, já que viver de bolsa por mais sei lá quanto tempo não me pareceu muito tentador frente ao salário que me ofereciam nas empresas.

Mas sempre ficou aquele sonho, aquela imaginação do que teria sido o caminho que eu não escolhi. Eu que sou sonhador, meio romântico, ficava imaginando o quanto seria bom fazer aquilo que eu realmente gosto. É comum a gente cair na armadilha de pensar que trabalhar no que se gosta é pura diversão. "Imagina que delícia ser um jogador de futebol profissional, ganhar uma grana para jogar bola, coisa que fazemos de graça numa boa...". Algumas semanas de aula já foram o bastante para me mostrar que no sonho era muito mais fácil!

Confio no meu taco, sei que tenho uma boa didática, é uma das minhas únicas características pessoais que admiro. Mas só isso não está adiantando. Passei o último fim de semana trabalhando feito um camelo para preparar o material para os meus alunos, que já tinham reclamado com o coordenador do curso que não estavam entendendo nada, que o nível da aula estava acima da capacidade deles, que continuando naquele ritmo viria o apocalipse...E mesmo com toda essa preparação, a aula terminou como uma batalha perdida, para todo mundo. E o pior é ouvir a reclamação dos dois lados, pois um aluno veio me dizer que eu não tenho que desanimar, que os alunos que reclamaram deveriam estar melhor preparados e se não estão isso não é problema meu, são uns preguiçosos....Quer dizer, mesmo que eu prepare a minha aula para essa turma mais fraca (seria mais preguiçosa?) tenho que me preocupar com os bons alunos também.

Menos ilusão daqui para frente e mais trabalho duro. Estou só começando e ainda tenho muito o que aprender. Vou repetir esse troço como um mantra até acreditar nisso!

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Alguém tem alguma dúvida?

Na minha curta experência como professor, já percebi que a frase acima é quase um convite ao silêncio. Ela me lembra um ditado que é muito popular lá na minha casa: "Quem oferece não quer dar". Explico: sabe aquela anfitrião que fica falando sobre o Black Label que ele tem guardado e fica perguntando se as visitas querem? Na maioria das vezes, encabuladas, as visitas acabam declinando. Se quisesse mesmo tomar o uísque (ou bourbon para os puristas, diz minha cultura de orelha que Jack Daniel's não é uísque) teria já trazido aberto, de preferência dentro dos copos.

Não tem coisa pior para o professor que o silêncio da classe. Nesse silêncio cabe todo tipo de elocubrações e fantasias, os alunos podem estar entendendo perfeitamente, não entendendo nada, sequer prestando atenção ou um pouco de cada coisa.

Também notei que uma turma nova, ainda não familiarizada ou segura o suficiente com o professor, tende a interromper somente para corrigir ou perguntar sobre o que estão copiando da lousa. Na matéria que eu ensino, representei a perturbação em um sistema de controle de temperatura como uma perda de calor. Até aí, nada demais. Entretanto, representei essa perda com uma seta que entrava no sistema, subtraindo do calor fornecido pelo forno. Ao copiar o esquema, um aluno não entendeu direito aquilo e mandou a pergunta: "Ué, se o calor sai, a seta não deveria ser para fora?". Foi a minha primeira pergunta de aluno, uma pergunta interessante, pertinente, que depois de um bom tempo de aula quebrou aquele silêncio tão constrangedor.

Fiquei pensando se os professores não poderiam usar isso como método para quebrar o gelo com seus alunos. Na hora de explicar os seus esquemas colocados na lousa, deixar de explicar certos pontos de propósito, ou ainda deixar certos ovos de Páscoa espalhados pela matéria, só para gerar diálogo com os alunos. Talvez aquela frase dita pelos nossos professores, em tom de brincadeira, ao apontarmos erros na exposição não seja de todo mentira. "Queria só ver se vocês estavam prestando atenção".

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Primeira aula

Hoje seria minha primeira aula como professor universitário. Estava disposto a escrever aqui as minha impressões, como em um diário de classe. Foi muito diferente do que eu estava imaginando.

Não houve aula propriamente dita. Ainda é a primeira semana, hoje é sexta-feira, ou seja, não foi ninguém. Passei a semana inteira muito apreensivo com relação a esta primeira aula, bastante preocupado em causar uma boa impressão. Será que passaria segurança suficiente?

Porque a vida é plena, não estou nada decepcionado com o que aconteceu. Na ausência dos alunos, fiquei trocando idéias com outro professor que vai dar aulas da mesma disciplina em outra turma. O cara me passou todas as dicas, o que ele está planejando fazer...Essa conversa foi fundamental! Perdi o ar sisudo de quem tem pela frente a tarefa mais importante do mundo e passei a encarar tudo com leveza e prazer. Quando os alunos aparecerem, vão ter um professor bem mais tranqüilo pela frente.

Antes das aulas assisti a algumas palestras, para os professores novos, claramente motivacionais. O papel delas é fazer a gente se sentir importante e cheio de responsabilidade. Até aí, nada demais. Mas junte a isso a ansiedade de quem não estréia só naquela faculdade, mas no magistério superior como um todo... E tem um superego gigante!

Tenho a impressão de que preciso me esquecer por alguns instantes de que sou um professor sério e rigoroso. Ou o peso nas costas não me deixa andar.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Motivações

O que me leva a escrever um blog?

O primeiro motivo, disparado, é a inveja. Inveja dos blogs do HQNV. Esse meu amigo escreve tão bem que se dá ao luxo de variar os estilos. Antes eram crônicas mais longas, agora são pequenos textos. De qualquer maneira, faz parecer que é fácil escrever. Acreditei nisso, embora a realidade seja um pouco diferente, pelo menos para mim.

Vem daí a minha segunda motivação. Se não é tão fácil assim, talvez praticando um pouco...Descobri que sou um leitor compulsivo, principalmente de texto jornalístico, mas também dou minhas cabeçadas nos romances, na auto-ajuda ou nos ensaios. Porém escrevo pouco. E aquela conversa de que lendo bastante se aprende a escrever é só argumento de professor para nos convencer a ler. Pode até ajudar, aumenta o vocabulário, mas escrever se aprende escrevendo, ora essa!

Também escrevo pelos comentários. Aqui vai, de novo, mais inveja. Um dos blogs do HQNV era caudaloso em comentários, que viravam um animado bate-papo entre os próprios comentaristas. Mas eu tenho só três leitores! Fiz propaganda do blog pelo orkut, tive até algumas visitas por conta disso, mas não segurei esses leitores. Talvez eles até tenham voltado à página, mas não encontraram textos novos por muito tempo. Ou estão por aí, calados (acho difícil). O que fazer? Como fazer novos leitores? Como fazer esses leitores comentarem? Como terminar meus textos?