quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Avesso do avesso

Vocês se lembram do meu comentário a respeito das minhas turmas na faculdade. A turma de terça-feira era agressiva, difícil, reclamava o tempo todo com o coordenador e mesmo comigo. Já na sexta existia interesse e camaradagem, já haviam me elogiado para o coordenador, marquei uma aula de reposição num sábado e muita gente foi.

Apliquei prova nas duas turmas. A de sexta foi muito, mas muito mal. Um monte de gente entregou as provas em branco, gente que eu esperava que fosse bem teve um desempenho lamentável e deu para sentir que eles estão loucos para colocar a culpa em mim, afinal, errar é humano e culpar o outro pelo erro é mais humano ainda! Confesso que nesse caso, nem sei se tiro a razão deles. A prova foi feita para ser de nível médio, mas eu devo ter errado em alguma suposição inicial. Estou só começando nessa carreira, meu feeling não é suficientemente preciso. Ainda não corrigi as provas, comento baseado no que vi ao passar os olhos pelas folhas enquanto eles entregavam, mas a coisa foi dramática. Será que meu relacionamento com eles vai mudar? Será que vou ter que fazer alguma coisa, como aplicar nova prova, desconsiderar questões, passar um trabalho? Aguardem cenas dos próximos capítulos.

Já a turma de terça estudou muito para a minha prova. Sei disso pois eles fizeram de tudo para que ela fosse a última da semana de provas e por que alguns alunos ligaram no meu celular para tirar dúvidas um dia antes. Adorei isso. Gostei mais ainda quando os vi atacando as três questões da prova, nada ali era completamente desconhecido para eles, como aconteceu com os alunos de sexta. Eles fizeram muitas perguntas ao longo da prova e eu acabei ajudando bastante, pois via que as perguntas eram na direção certa, mostravam algum conhecimento prévio. Ora, estou lá para que eles aprendam, acho muito careta desperdiçar qualquer chance de ensinar, mesmo que seja durante uma prova. Qual é a prioridade afinal? Garantir lisura no processo da prova ou aprendizagem efetiva? Os dois são objetivos de um professor, mas o último tem maior peso. Já na turma de sexta, nem deu para ajudar, eles não sabiam o que perguntar, não tinham nenhuma idéia do que estava ali na frente deles.

Estou muito feliz com a minha turma de terça. Quero dizer isso para eles já na próxima aula, independente das notas. Eles podem até ter ido mal, derrapado aqui e ali nas questões da prova, mas mostraram maturidade ao estudar muito. Para ter uma idéia do que é a tal maturidade de que estou falando, até ameaça de boicote a minha prova sofreu, segundo o coordenador. Acho que pela ajuda que eles tiveram na prova, pelo sentimento de que eram capazes de resolver as questões e pelo discurso que prentendo fazer na próxima aula, vou acabar o semestre como um professor talvez querido, pelo menos respeitado.

E o pessoal de sexta? Para começar, nem sei que discurso adotar. Não sei se chego na sala pagando geral, dizendo a eles que não adianta só ter boas aulas (como as minhas, hehe) e não estudar nada. Que a continuar assim estão todos fritos e que eu estou muito decepcionado, afinal eles eram a minha melhor turma! Outra alternativa é bancar o good cop e dizer que eu sinto muito pelo resultado, que eu não esperava que a minha prova fosse tão difícil nem que eles estivessem tão despreparados, mas que juntos nós vamos dar a volta por cima, afinal eles são uma turma muito querida e tal. Tudo isso vou discutir com o meu coordenador depois de ter corrigido todas as provas, o que espero fazer esta noite.

Incrível como uma prova pode mudar completamente o cenário da relação professor-aluno. Deve ser a relação mais delicada entre todas as relações humanas. Pelo menos das que vivi até hoje: namorado-namorada, filho-mãe, filho-pai, marido-mulher, amigo-amigo(a), empregado-chefe, mestrando-orientador...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Soja

Quando ainda repetia slogans de esquerda em qualquer discussão, gostava de falar do absurdo que era o latifúndio, produzindo soja para alimentar o gado americano no inverno. Dizia que o negócio é a agricultura familiar, que produz os alimentos de verdade, já que eu não como soja!

Se não fosse a soja e a indústria de alimentos (multinacional), meu filho não teria leite, iogurte, vitaminas. Tudo com leite de soja e à venda nas melhores lojas do ramo.

E gado não alimenta gente? Americano não é gente? Será que a carne que eu como veio de um lote de reforma agrária ou de uma grande fazenda? Aposto todas as fichas na última.

Mamíferos

Parece que somos a única espécie de mamífero que segue bebendo leite, dos outros, para o resto da vida. Já ouvi o relato, de segunda mão, de pediatras que dizem às mães que "leite de vaca é para bezerro". Pouca coisa pode ser tão estúpida!

Meu filho desenvolveu intolerância à lactose. Estamos contornando com o leite de soja, mas não é o bastante. Tente tirar completamente o leite da sua dieta e você vai ter alguma idéia do que estamos passando! Quase toda receita um pouco mais elaborada tem leite. Neston batido com suco de frutas tem leite (olha o rótulo, tá escrito lá: contém traços de leite). Uma papinha de estrogonofe de frango tem leite. Bolacha, chocolate, bolo: leite, leite, leite.

Se um dia o pediatra do seu filho vier com essa conversa mole, saiba que é só para você achar que está tudo bem com seu filho, errados são os outros que insistem com esse hábito anti-natural. Ele tenta fazer você aceitar o trabalhão que vai ter e ainda se sentir orgulhoso pelas escolhas certas. Pode ser com a melhor das intenções, mas é bem desonesto. Será que o dr. não toma leite nenhum? Ou ainda é um bezerro?