sexta-feira, 1 de junho de 2007

Números

Alguns alunos da USP invadiram a reitoria para protestar contra decretos do Serra que, segundo eles, ferem a autonomia das universidades públicas paulistas.

Isso gerou um debate muito interessante. O Reinaldo Azevedo mostrou que as três universidades paulistas tem juntas um orçamento comparável com o de Harvard. Mostrou também que a USP gasta com subsídios diversos 20% do dinheiro que deveria ser destinado a ensino, pesquisa e extensão. Um professor argumentou para o Paulo Henrique Amorim que o problema é que 90% do orçamento das universidades vai para folha de pagamento, aí incluídos os professores e funcionários aposentados, e que por isso as universidades precisam de mais dinheiro.

Sei que esses números não batem. Mas vamos considerar que os 20% acima sejam sobre o dinheiro que sobra depois de pagar a folha. Significa que as universidades tem um orçamento incrível (comparável com o de Harvard) mas só sobra 8% dele para comprar livros, equipamentos, construir e reformar os prédios.

Nada contra dar comida e moradia aos estudantes, desde que não falte dinheiro para o principal, certo? E precisa subsidiar a comida de todo mundo, indistintamente? E vem cá, precisa mesmo de mais dinheiro? Sei que os professores não ganham bem, então como é possível que 90% do dinheiro seja gasto com pessoal? Ou tem professor demais, ou tem funcionário demais, ou as duas coisas juntas...

Reclamam que o Serra quer monitorar as contas das universidades em tempo real. Eu acho bem razoável, tem alguma coisa muito errada com esses números, não tem?

5 comentários:

A. disse...

Quanto mais trabalho com números, mais me convenço da inutilidade deles na defesa de causas. Devidamente torturados, eles dizem qualquer coisa.

A causa em questão é, a meu ver, quase simbólica... Meio o poema do Bretch (é dele mesmo?), que diz que "um dia eles vieram...".

Enfim...

Ah, e respondendo à tua questão: não há professores demais não! Ao contrário (e ao contrário do common belief), os professores estão cada vez mais sobrecarregados. Agora, quase professor aqui na UFRGS e conhecendo melhor a profissão, a valorizo cada vez mais.

A. disse...

Fui lá ler o link da Veja (por mais repulsa que isso me desse). Nossa, justificar a argumentação na comparação do número de prêmios Nobel de Harvard e da USP é, no mínimo, risível.

Menos retórica, por favor, seu Reinaldo!

alimped disse...

Você não pode acusar o Reinaldo de jogar com os números. Ele escreve textos longos com bastante argumentação.

Quanto aos prêmios Nobel, acho que os números da produção científica do Brasil não são compatíveis com o que se gasta com a universidade.

Talvez a culpa seja da base educacional, não é possível recuperar na universidade o tempo perdido nos ensinos fundamental e médio.

O importante é que o dinheiro gasto é alto e a solução não é, a meu ver, aumentar a verba.

Mas o fato é que eu e você fazemos parte de uma exceção na universidade brasileira, estamos em grupos de pesquisa muito bons, mas infelizmente essa não é a regra.

A. disse...

Vou (tentar) ser menos chato dessa vez.

Eu concordo que tem coisa errada nas universidades brasileiras. Sempre tem. Mas me irritam comparações tão simplistas como a que faz o Reinaldo (sempre esqueço o sobrenome). Não dá pra falar de números sem estudar o contexto no qual eles foram gerados. Não dá pra simplesmente pegar números de Harvard e comparar com números da USP.

Segundo a wikipedia, Harvard tem míseros 6000 estudantes de graduação e 12000 estudantes de pós-graduação. Muitos deles mantidos por governos como o nosso, depois de passarem por uma seleção brutal.

Assim, meu amigo, é fácil transformar $$ em publicações...

Agora pega os mesmos professores de Harvard e dêem pra eles a carga horária didática, os trabalhos burocráticos, as picuinhas da pesquisa que tomam um tempo enorme (meu orientador no Canadá tinha uma secretária pra digitar artigo pra ele).

Enfim... A Cambridge o que é de Cambridge e a São Paulo o que é nosso!

alimped disse...

Um artigo na Veja (sempre ela, pode dizer que eu não leio outra coisa) do Cláudio de Moura e Castro traz uma opinião interessante.

Ele diz que não são todas as universidades nos Estados Unidos que fazem ensino-pesquisa-extensão. É uma minoria que faz pesquisa. Mas aqui nós queremos que TODA universidade faça as três coisas...

Depois que eu li isso, parei um pouco com a implicância que eu tinha com o fato das particulares não fazerem pesquisa no Brasil. Talvez mesmo entre as públicas poderia haver alguma especialização...